Se você for um pouco
mais antigo, como esta que vos fala, vai lembrar que antes a maioria das bulas
era feita em um papel bem fininho, as letras eram miudinhas e todo o espaço era
aproveitado. Isso acontecia para que coubesse o máximo de informação possível
sobre o medicamento naquela bula, naquele espaço de papel.
Com os dicionários ainda
acontece a mesma coisa, se forem dicionários impressos. O espaço precisa ser
bem aproveitado para que comporte uma quantidade maior de palavras sem deixar o
dicionário muito volumoso e pesado, permitindo não só a inserção de uma
quantidade expressiva de palavras e termos como também alguma portabilidade do
dicionário ao consulente.
Um dos modos de alcançar
este objetivo é reduzindo o espaço destinado às margens, usar uma fonte
reduzida e um papel de gramatura fina e leve, que permita a inserção de muitas
folhas e não deixe o dicionário tão pesado.
Certo, mas eu falei das
bulas mais antigas. Isso porque as bulas, antes, eram mais direcionadas aos
médicos e não tanto ao público que iria usar o medicamento. O importante era
que o médico tivesse acesso a muitas informações sobre o remédio e ele, então,
explicaria ao paciente como usar a medicação.
Mas as bulas mudaram,
porque o público-alvo mudou. Os médicos começaram a ter acesso às informações
sobre o medicamento por uma bula especial para eles, ou por outros meios e as
bulas passaram a ser direcionadas para o público consumidor dos medicamentos. Com
a mudança de público-alvo, começou-se a usar uma fonte de tamanho maior, o que
acarretou uma gramatura de papel mais grossa e um uso do espaço no papel mais
conservador.
Outra coisa que,
obviamente, teve que mudar, foi a linguagem usada na bula. Como o público-alvo
passou de médicos e profissionais da saúde ao público em geral, foi necessário
que uma linguagem clara e acessível fosse implantada. O consulente de uma bula
precisa entender exatamente como tomar o medicamento, quais os efeitos
colaterais e as reações adversas para poder usar plenamente o remédio.
Com os dicionários
aconteceu uma coisa parecida, mas a questão fundamental, que permeia a mudança
tanto nas bulas quanto nos dicionários é
a determinação do público-alvo. É esta determinação que orienta ou deveria
orientar os profissionais que produzem dicionários em cada passo, em cada
decisão a respeito de como compor a apresentação de um dicionário.
No próximo post vamos
falar sobre as questões que orientam a elaboração de um dicionário, isto é, que
perguntas o elaborador do dicionário deve fazer a si próprio na elaboração de
um.
Referências:
Welker, Herbert Andreas.
Dicionários – Uma pequena introdução à Lexicografia. Brasília. Editora
Thesaurus, 2004.